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Por g1 Santos


Tripulante vive expectativa de desembarcar de navio e retomar vida normal

Tripulante vive expectativa de desembarcar de navio e retomar vida normal

Tripulantes de um navio de cruzeiros ouvidos pelo g1 nesta terça-feira (18) afirmam que foram impedidos de desembarcar do Costa Diadema, que segue em quarentena na área de fundeio do Porto de Santos, no litoral de São Paulo, mesmo após serem negativados para Covid-19 no teste mais recente ao qual foram submetidos dentro da embarcação.

O g1 solicitou posicionamentos à Costa Cruzeiros e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.

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Nathonyo fala sobre expectativa de poder desembarcar de navio de cruzeiros — Foto: Reprodução

O tripulante Nathonyo Henrique Moreira, de 26 anos, afirma que solicitou o desembarque após a morte de uma tia que estava em terra, no dia 3 de janeiro, mas foi impedido de desembarcar. "Eu testei negativo para Covid-19 já nesse dia, mas não fui autorizado, porque o navio estava em quarentena, e fui informado que só a partir do dia 14 deste mês a Anvisa iria reavaliar se poderíamos desembarcar. Então, fiquei com a angústia de não viver esse luto com a minha família", afirma.

Ele relata que, após o desembarque dos passageiros, com a suspensão da temporada de cruzeiros na costa brasileira, restaram apenas os tripulantes, mas, ainda sim, muitos trabalhadores seguiam sendo isolados por testarem positivo para a doença, ou por terem contato próximo com alguém que positivou na embarcação.

"Eram cerca de 40 a 60 pessoas sendo isoladas por dia. Então, eles implementaram uma quarentena em níveis diferentes. As pessoas que testavam positivo eram isoladas por 14 dias. As que tinham tido contato com elas eram isoladas por dez dias, e quem não havia testado positivo continuava trabalhando com a carga horária reduzida, mas tinha que voltar para as cabines e não podia mais usar as áreas comuns do navio, para evitar que o número de contágio fosse maior", diz.

Nathonyo mostra como está o isolamento em navio, e relata dificuldade para desembarcar — Foto: Arquivo Pessoal

Moreira afirma que ele e outro tripulante solicitaram desembarque no começo do mês, mas ele continuou trabalhando por mais cerca de três dias. Porém, por volta do dia 7, decidiu que não iria mais trabalhar, e que ficaria isolado na cabine por medo de ser infectado e ter que passar mais tempo a bordo do navio.

"Desde então, cumpri o isolamento em uma cabine de passageiros sem janela e varanda, porque em nenhum momento testei positivo. Recebi as refeições, mesmo que alguns dias com atraso. Com relação à comunicação, só tenho acesso a WhatsApp por texto, porque a rede não permite ligações ou mandar áudios, a não ser que você pague uma taxa entre 3 e 6 centavos de dólar por minuto", afirma.

Segundo o tripulante, o clima no navio ainda é de muita tensão. "A quantidade de tripulantes isolados ainda é muito alta, é uma situação bem delicada. Eu não estou mais com vínculo empregatício com a empresa desde o dia 13, mas continuo impedido de voltar para exercer minha profissão em terra, já que sou professor de inglês, e a escola está me aguardando. Todos os passageiros, mesmo os que testaram positivo, conseguiram desembarcar. Nós temos menos direitos que eles?", questiona.

Tripulantes relatam que estão impedidos de desembarcar do navio Costa Diadema — Foto: Reprodução/Marine Traffic

'Abalado'

O segundo tripulante ouvido pelo g1, que prefere não se identificar, relata que está abalado com a situação. Ele afirma que, no dia 3 de janeiro, testou positivo para Covid-19, e fez a quarentena de dez dias. Quando fez o exame novamente, no último dia 13, testou negativo para a doença.

"Estamos em uma situação difícil, as coisas só se complicam a cada dia que passa. Estou com minha sanidade mental abalada, pois estou com problemas familiares para resolver, contas atrasadas, faz sete dias que a companhia não credita meu salário, e não tenho retorno algum referente à situação", afirma.

Além disso, ele relata que, por temer que as atividades de cruzeiros não possam retornar brevemente, precisa desembarcar para tentar outro trabalho. "Não só queremos desembarcar, como sabemos que não irão retornar as atividades de cruzeiros tão cedo. Estamos com contatos de emprego em terra, mas precisamos estar presentes para firmar contrato e trabalhar", diz.

Anvisa recomenda suspensão definitiva

Na semana passada, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária recomendou ao Ministério da Saúde e à Casa Civil da Presidência da República a suspensão definitiva da temporada de cruzeiros no Brasil, como ação necessária à proteção da saúde da população.

Segundo a agência reguladora, o documento encaminhado ao Ministério da Saúde e à Casa Civil contém a apresentação do cenário epidemiológico de Covid-19 nas embarcações de cruzeiro que operam a temporada 2021-2022, incluindo as intercorrências, por embarcação, desde o início de suas operações em território nacional.

A Anvisa explica que os protocolos que definiu para a operação dos navios de cruzeiro no Brasil trouxeram dispositivos que permitiram acompanhar o cenário epidemiológico nas embarcações durante quase dois meses, e foram fundamentais para se identificar rapidamente a alteração no número de casos a bordo na penúltima semana epidemiológica de 2021.

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