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Cultura Música

Gênero mais ouvido nos EUA em 2017, hip-hop se fortalece no Brasil com cena que se ramifica

Artistas como Rincon Sapiência e Baco Exu do Blues lotam shows e registram milhões de ‘views’ na internet
Rappers como Drik Barbosa, Rincon Sapiência e Baco Exu do Blues Foto: Divulgação
Rappers como Drik Barbosa, Rincon Sapiência e Baco Exu do Blues Foto: Divulgação

RIO — 2017 representou um marco e tanto para o rap , pelo menos nos EUA. Segundo relatório anual publicado ontem pela consultoria Nielsen , pela primeira vez na história o gênero superou o rock como gênero mais popular dos Estados Unidos, com 24,5% do total da música consumida no país no ano passado — considerando venda de álbuns, de canções digitais e streaming de áudio de cada artista.

No Brasil, a poesia urbana e os beats ainda não chegam perto da predominância do grande líder das paradas, o sertanejo. No Spotify, apenas uma faixa aparece no top 50: “Deixe-me ir”, do coletivo 1Kilo (na 21ª posição); no rádio, o veículo mais popular, não há nenhum representante entre as cem mais ouvidas.

AM
PE
BA
DF
MG
SP
RJ
SC
BA
SP
Rincon Sapiência
Há anos na batalha, Rincon alcançou um público maior em 2017, impulsionado pelo lançamento do disco “Galanga livre” — o clipe de “Ponta de lança” tem cerca de 10 milhões de visualizações. É o único rapper brasileiro escalado para o próximo Lollapalooza.
Ouça: “Ponta de lança (Verso livre)”
Baco Exu do Blues
Sua estreia no Circo Voador, em dezembro, junto com Sapiência, sacudiu a lona da Lapa. “Esú”, seu primeiro disco, foi um dos mais celebrados pela crítica em 2017 por tratar de temas como conflitos internos, preconceito, sexo, sagrado e caos urbano em versos comoventes.
Ouça: “Te amo disgraça”
SP
MG
Drik Barbosa
É uma das integrantes do coletivo paulistano Rimas e Melodias, que também lançou um dos discos de destaque de 2017. Veterana da cena, começou a rimar na lendária batalha de Santa Cruz e colaborou diversas vezes com Emicida. Vai lançar seu primeiro álbum cheio em 2018.
Ouça: “Banho de chuva”
Djonga
Com “Heresia”, seu primeiro álbum, o mineiro provou que é um dos nomes mais inventivos do hip hop nacional. Dono de um flow inconfundível, ele se solidificou como um rapper capaz de lançar hits românticos e críticas sociais sem perder a identidade.
Ouça: “O mundo é nosso”
PE
SP
AM
MG
Coruja BC1
Apadrinhado por Emicida, o bauruense é conhecido por suas rimas complexas e imaginativas.
Ouça: “NDDN”
Victor Xamã
De rima intensa, o rapper acabou de lançae disco em que reflete sobre as dicotomias de Manaus.
Ouça: “Desenfreado e tranquilo”
Diomedes Chinaski
Polêmico, o recifense traz referências variadas em seu som e prepara seu primeiro disco solo.
Ouça: “Sulicídio”
Clara Lima
Com apenas 18 anos, a mineira é dona de flow pesado e faz rap digno de quem tem décadas de estrada.
Ouça: “Vida luxo”
RJ
DF
SC
RJ
Froid
Respeitado pela cena, o brasiliense aparece em cyphers como Poetas no Topo e Favela Vive.
Ouça: “Pseudosocial”
Makalister
O catarinense é conhecido por fazer rimas com referências complexas ao cinema e à literatura.
Ouça: “Amores perros”
BK
Parte do selo Pirâmide Perdida, destaca-se por transitar entre diversos flows em uma mesma música.
Ouça: “Amores, vícios e obsessões”
Luccas Carlos
O carioca destaca-se pela voz marcante e pelo uso de auto-tune. Por isso, não só rima, mas também canta.
Ouça: “O que quiser fazer”
Editoria de Arte: Nathany Santos, Lucas Gomes e Emanuel Santos
SP
Rincon Sapiência
Há anos na batalha, Rincon alcançou um público maior em 2017, impulsionado pelo lançamento do disco “Galanga livre” — o clipe de “Ponta de lança” tem cerca de 10 milhões de visualizações. É o único rapper brasileiro escalado para o próximo Lollapalooza.
Ouça: “Ponta de lança (Verso livre)”
BA
Baco Exu do Blues
Sua estreia no Circo Voador, em dezembro, junto com Sapiência, sacudiu a lona da Lapa. “Esú”, seu primeiro disco, foi um dos mais celebrados pela crítica em 2017 por tratar de temas como conflitos internos, preconceito, sexo, sagrado e caos urbano em versos comoventes.
Ouça: “Te amo disgraça”
SP
Drik Barbosa
É uma das integrantes do coletivo paulistano Rimas e Melodias, que também lançou um dos discos de destaque de 2017. Veterana da cena, começou a rimar na lendária batalha de Santa Cruz e colaborou diversas vezes com Emicida. Vai lançar seu primeiro álbum cheio em 2018.
Ouça: “Banho de chuva”
MG
Djonga
Com “Heresia”, seu primeiro álbum, o mineiro provou que é um dos nomes mais inventivos do hip hop nacional. Dono de um flow inconfundível, ele se solidificou como um rapper capaz de lançar hits românticos e críticas sociais sem perder a identidade.
Ouça: “O mundo é nosso”
SP
Coruja BC1
Apadrinhado por Emicida, o bauruense é conhecido por suas rimas complexas e imaginativas.
Ouça: “NDDN”
AM
Victor Xamã
De rima intensa, o rapper acabou de lançae disco em que reflete sobre as dicotomias de Manaus.
Ouça: “Desenfreado e tranquilo”
PE
Diomedes Chinaski
Polêmico, o recifense traz referências variadas em seu som e prepara seu primeiro disco solo.
Ouça: “Sulicídio”
MG
Clara Lima
Com apenas 18 anos, a mineira é dona de flow pesado e faz rap digno de quem tem décadas de estrada.
Ouça: “Vida luxo”
DF
Froid
Respeitado pela cena, o brasiliense aparece em cyphers como Poetas no Topo e Favela Vive.
Ouça: “Pseudosocial”
SC
Makalister
O catarinense é conhecido por fazer rimas com referências complexas ao cinema e à literatura.
Ouça: “Amores perros”
RJ
BK
Parte do selo Pirâmide Perdida, destaca-se por transitar entre diversos flows em uma mesma música.
Ouça: “Amores, vícios e obsessões”
RJ
Luccas Carlos
O carioca destaca-se pela voz marcante e pelo uso de auto-tune. Por isso, não só rima, mas também canta.
Ouça: “O que quiser fazer”
Editoria de Arte: Nathany Santos,
Lucas Gomes e Emanuel Santos

Mas nem só com números oficiais se constata a consolidação de uma cena: há tempos não se via um time tão robusto e diversificado, com representantes em diferentes regiões do território nacional. Os shows lotam, alavancados pelas visualizações em vídeos e redes sociais, que já passam a barreira de um bilhão.

— Estamos conseguindo fincar a bandeira do rap em lugares que a gente nunca imaginou estar — comenta Jxnvs, rapper e beatmaker de Volta Redonda, que participou da estreia de um dos mais falados projetos do hip-hop nacional nos últimos anos: a série Poetas no Topo, projeto de cypher (um estilo de colaboração em que vários rappers rimam em cima de uma mesma batida, em geral de improviso) que acumula 34 milhões de visualizações em cinco vídeos, com participação de 25 MCs de todo o país.

A série faz parte do canal de YouTube Pineapplestorm TV , uma das principais plataformas de lançamento e apresentação de artistas do rap e do hip-hop brasileiro. Criado em dezembro de 2016, seus vídeos — cyphers, em sua maioria — já foram vistos mais de 155 milhões de vezes.

Lançados com enorme velocidade e produzidos de maneira independente, os cyphers tomaram a cena do rap brasileiro da noite para o dia e são as faixas mais escutadas no hip-hop em 2017. Empreitadas como Poetas no Topo, Cypher Respect e Favela Vive movimentam milhares de jovens a cada lançamento, alavancando nomes como o baiano Baco Exu do Blues, o mineiro Djonga, o paulista Coruja BC1 e o brasiliense Froid.

— Acho que a galera percebeu que, unindo um público com o outro, se vai muito mais longe. Uma andorinha só não faz verão — explica DK, idealizador do Favela Vive e membro da dupla ADL (Além da Loucura), ao lado de Lord, que conheceu na Região Serrana do Rio.

FORA DO EIXO RJ-SP

Para o rap nacional, 2017 foi também o ano em que seu público olhou para além do eixo Rio-São Paulo. “Como é que você nunca ouviu falar/ dos bruxos raros do norte?” são os primeiros versos da faixa “Sulicídio”, lançada há cerca um ano por Baco e pelo pernambucano Diomedes Chinaski, um ataque ao establishment do rap nacional, que estava focado apenas nas duas maiores cidades do país.

— A cena ficou mais próxima. Antes era cada um na sua banca — comemora Froid, MC de Brasília que se destacou na carreira solo e em seu trabalho no grupo Um Barril de Rap. — Ouvia Black Alien falando da Delfim Moreira, no Leblon, e eu conhecia. Mas não era minha cidade. O som aproxima os daqui, mas não afasta o resto.

Ronald Rios, jornalista e apresentador do canal Rap Cru, lembra que tal processo foi lento também nos Estados Unidos:

— O rap do Sul ( dos EUA ) teve que ralar para ser ouvido. E que bom, se não a gente não teria Outkast. Nem Chinaski.

Outro processo de inclusão recente que ganhou força foi a presença cada vez mais forte de MCs mulheres. Criado no fim de 2015 pela cantora Tatiana Bispo e pela DJ Mayra Maldjian, o coletivo paulistano Rimas e Melodias lançou, em setembro, seu elogiado epônimo álbum de estreia, que entrou em diversas listas de melhores discos de 2017. Ele traz nomes de destaque como Tássia Reis, Karol de Souza e Drik Barbosa, que, ao lado de Lívia Cruz, Clara Lima e Flora Matos encabeçam uma longa lista de nomes femininos de destaque, muitas delas há anos na estrada.

— Existem mais referências para as mulheres se entenderem como donas desse espaço. Não é cedido ou estabelecido. É uma construção constante — explica Lívia.