Economia

Brasil piora e já é o 9º do ranking global de desigualdade de renda

Segundo relatório da organização internacional Oxfam, país perdeu uma posição em relação ao ano anterior
Moradores de rua ocupam passagem subterrânea em frente ao cemitério do Catumbi, no Rio Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo
Moradores de rua ocupam passagem subterrânea em frente ao cemitério do Catumbi, no Rio Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo

RIO - A edição 2018 do relatório da Oxfam Brasil "País estagnado: um retrato das desigualdades brasileiras", divulgado nesta segunda-feira, mostra que, globalmente, o Brasil piorou seu desempenho em relação à busca por igualdade de renda. O país já é o 9º mais desigual do planeta. Um ano antes, em 2016, ocupava a 10ª posição.

- Nosso relatório não só revela que o país estagnou em relação à redução das desigualdades, como mostra que podemos estar caminhando para um grande retrocesso. E, novamente, quem está pagando a conta são os mesmos de sempre: as pessoas em situação de pobreza, a população negra e as mulheres - afirma Katia Maia, diretora-executiva da organização.

Rafael Georges, coordenador de Campanhas da Oxfam Brasil e autor do relatório, aponta onde o país tem cometido erros:

- Cortamos gastos que chegam aos que mais precisam, em educação, saúde, assistência social, e não mexemos no injusto sistema tributário que temos.

O estudo mostrou que 71% dos brasileiros são favoráveis ao aumento de impostos para o mais ricos. Segundo a organização internacional de combate à pobreza, às desigualdades e às injustiças, é a primeira vez que foi incluída na pesquisa uma pergunta sobre o tema: "o governo deve aumentar os impostos somente de pessoas muito ricas para garantir melhor educação, mais saúde e mais moradia para os que precisam?".

Realizada em parceria com o Datafolha, a pesquisa mostrou que, entre a população com menor renda, o apoio é ainda maior: 74% das pessoas cujos rendimentos são de até um salário mínimo disseram ser favoráveis, enquanto entre os com renda superior a cinco salários mínimos 56% disseram concordar com a maior tributação sobre os mais ricos.

O Brasil é o país que menos tributa renda de patrimônio, se comparado ao total de sua carga tributária bruta, dentre os 36 países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Por aqui, de cada R$ 1 arrecadado, apenas R$ 0,22 vem de taxas sobre a renda e do patrimônio.

Nos demais países, essa mordida seria de R$ 0,40 para cada R$ 1 pago em tributos. Nos Estados Unidos, por exemplo, 59,4% do que é arrecadado pelo Fisco vem de impostos sobre a renda e o patrimônio da população. Isso significa que, no Brasil, a tributação recai muito mais sobre o consumo, que basicamente é movido pelas famílias de renda menor. Assim, o sistema tributário acaba penalizando os que têm rendimentos mais baixos.

"Em outras palavras, existe lastro na sociedade para políticas fiscais redistributivas – incluindo as tributárias", ressaltou a Oxfam, no documento.

Segundo Georges, com algumas mudanças no sistema tributário, o Brasil poderia avançar de dois a cinco anos em redução de desigualdades, considerando a média de redução verificada no país desde a Constituição de 1988.

Ainda segundo o estudo, quase oito em cada dez brasileiros esperam que governos ajam para reduzir desigualdades.

Na avaliação da organização, o Brasil tem um sistema fiscal mais efetivo (no sentido de reduzir mais as desigualdades) que grandes economias da região como Colômbia e México, superior à média da América Latina e Caribe e comparável ao da Argentina. No entanto, está bastante atrás de países da OCDE e, ainda mais dos 15 países mais ricos da União Europeia.

"Há um grande espaço e uma inegável urgência para a reversão de privilégios no Brasil. Há décadas, os mais ricos detêm uma enorme fatia da renda nacional, seja em contexto de crise ou de bonança", diz o documento da Oxfam.

"Isenções fiscais, benevolentes benefícios e relações de compadrio com o Estado marcam a composição da renda do topo da pirâmide social, enquanto o país tem um dos piores níveis de mobilidade social do planeta. Portanto, é imperativo que soluções para as contas públicas perpassem pelo cerne da questão, ou seja, a real discussão redistributiva no país, inserindo os direitos da base da pirâmide social na equação fiscal", defende a Oxfam.